sábado, 17 de fevereiro de 2018

Gêmeas siamesas unidas pela cabeça passam por 1ª cirurgia de separação

Internadas em Ribeirão Preto (SP), as irmãs siamesas de 1 ano e 7 meses, que nasceram unidas pela cabeça, passarão pela primeira cirurgia de separação neste sábado (17) no Hospital das Clínicas (HC).

O procedimento inédito no Brasil será realizado pela equipe comandada pelo professor chefe do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica, Hélio Machado, e que tem o cirurgião norte-americano James Goodrich, referência no assunto no mundo. Ele viajou dos EUA a Ribeirão Preto nesta sexta-feira (16).

As meninas, naturais de Patacas, distrito de Aquiraz (CE), a 35 km da capital Fortaleza (CE), são acompanhadas há um ano no interior de São Paulo por cerca de 30 profissionais, envolvendo neurocirurgiões, neurologistas, anestesistas, cirurgiões plásticos, intensivistas e enfermeiros.

O horário da cirurgia não foi divulgado pelo hospital, mas a previsão inicial é que o procedimento dure cerca de cinco horas. Os pais das gêmeas não deram declarações a respeito do caso.

Segundo o neurocirurgião Eduardo Jucá, responsável pelo acompanhamento das irmãs no Ceará e pelo encaminhamento delas ao hospital em São Paulo, as gêmeas têm boa saúde e estão devidamente prontas para enfrentar a cirurgia. Das quatro fases previstas ao longo do ano, três consistem na preparação para a separação definitiva.

“Os três primeiros procedimentos são de desconexão dos vasos sanguíneos e de expansão da pele. Além da separação do cérebro, precisa ter pele para cobrir, então isso já é um procedimento usado em cirurgia plástica, que é a expansão da pele no local. Não é enxerto nesse momento”, afirma.

Estudos e exames
 
Jucá foi aluno da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto e especializou-se em neurocirurgia pediátrica. Ele tomou conhecimento do caso das irmãs pouco tempo após o nascimento delas, quando as duas foram encaminhadas ao hospital onde ele atua como coordenador. Devido à complexidade, entrou em contato com a equipe do HC para articular as avaliações.

Para viabilizar as cirurgias, exames complexos de ressonância magnética feitos no HC foram enviados à equipe do neurocirurgião James Goodrich, no Montefiore Medical Center, em Nova York. Eles propiciaram a criação de moldes tridimensionais em acrílico, com as veias e as artérias das crianças reproduzidas fielmente. Goodrich dedicou a carreira a casos complexos como este e já realizou 20 cirurgias de sucesso pelo mundo.

Apesar de terem nascido unidas pelo topo do crânio, as irmãs não compartilham o mesmo cérebro. No entanto, a proximidade e o sistema vascular em partes interligado são considerados os fatores mais inquietantes para a equipe.

“As artérias levam sangue do coração para o cérebro. Elas não importam muito porque cada uma tem as suas, são separadas. As veias não. Essas veias são um entrave porque elas são capazes de passar de uma pra outra. Os cérebros das duas também estão próximos uma da outra, como se fosse bem rente e entremeado”, diz o neurocirurgião Hélio Machado.

Restauração da pele
 
Outro desafio para a equipe é a restauração do tecido da parte superior das cabeças após as incisões feitas para o trabalho dos neurocirurgiões.

“Nós iniciaremos com uma incisão transversal e permitindo um campo de operação para a equipe de neurocirurgia. Ela vai realizar o procedimento de ligação dos vasos e nós fechamos a pele. O mesmo procedimento será usado na segunda intervenção, mas com uma ampliação muito maior das incisões, mais ligações de vasos”, explica o professor Jayme Farina Júnior, chefe da divisão de cirurgia plástica do HC.

Segundo Farina Júnior, o couro cabeludo da região occipital – em cima da nuca – será implantado na parte superior da cabeça após a separação definitiva. A área que ficará sem a pele receberá enxertos retirados de outras partes do corpo.

Intervalo
 
De acordo com Jucá, a cada cirurgia, serão necessários dois meses de recuperação para as pacientes. A previsão é que a família fique hospedada em Ribeirão Preto, uma vez que as viagens de ida e volta demandam uma logística elaborada.

Diretor do Departamento de Atenção à Saúde do Hospital das Clínicas, o médico Antônio Pazin Filho afirmou que o procedimento é estimado em US$ 2,5 milhões na rede particular nos Estados Unidos, mas será realizado no Brasil por cerca de R$ 100 mil, custeados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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